Vinhas verdes à beira mar,
Agora que o vento não resmunga,
Devindes mais verdes e ainda
Tendes a folha receosa.
Vinhas verdes do litoral,
Sois mais finas que a luzerna.
Verde ende o azul marinheiro,
Videiras com a fruta verde,
Vinhas verdes do litoral.
Vinhas verdes, tenro repouso,
Perto da vela que passa;
Para o mar curvai o corpo
Sem vos inclinar demais.
Vinhas verdes, solidão
Do verdor na hora quente.
Uva e cepo podado
Sobre a terra nitente;
Vinhas verdes, solidão.
Vinhas que dizeis adeus
Ao batel e à gaivota,
E ao fim, manto de neve
Que ora nasce e ora morre...
Vinhas verdes do meu coração...
Dentro do cepo, adormece-se a tarde;
Uva preta, sarmento dourado,
Água, rochedo e angústia.
Vinhas verdes do meu coração...
Vinhas verdes à beira mar,
Verdes no nascer do dia,
Verde ligeiro ao chegar o serão...
Fazei-nos sempre companhia,
Vinhas verdes à beira mar!