Os meus primeiros cadernos estão aqui
cheios de sangue e merda e lama
com poemas escritos à pressa no intervalo
de um combate ou de cócoras a cagar
no meio do mato. Poemas decorados
quando na cela não havia papel
e eram ditos em voz alta
só para ter a quem ouvir.
Poemas mais tarde escritos às escondidas
ou a passar fronteiras ou registados
enquanto caminhava pelas ruas
sem país sem casa sem tertúlias
nem compadrios literários
apenas a incomparável marginalidade extrema
e um caderno quadriculado para apontar
o sangue a merda a lágrima o amor a perda
de que se faz cada poema.