Caruarú, hotel Centenário, suite principesca, vista sobre o banheiro, tv a cores
Corrente eléctrica alternada
As pás do ventilador cortam em fatias o ar denso como a mandioca
O último Texaco acabou de fechar as portas
Somente os mosquitos podem me amar assim
Seus beijos sangrando não me deixam dormir
Bem feito para mim ! Eu melhor não vinha...
Sentado na sua poltrona, você escuta minha voz
Como um velho necrófago, você está esperando eu cuspir
A cara amarela dos caboclos, Antônio das Mortes
Capangas machos, servindo os fazendeiros
Para te dar um gosto de férias inteligentes.
Os que vendem sol fiado,
Os coqueiros, os palácios, e a areia branca,
Nunca virão aqui,
Nota bem que dizem que ver mais pobre que você, isso alivia.
Então venham, aqui, todo mundo pode vir, aqui não tem nada
Um sol bêbado de raiva está girando no céu
E devora a paisagem de terra e de sal
Onde se vê a sombra de Lampião
De onde viraõ os cangaceiros da libertação ?
O cavaleiro que eu cruzo no seu cavalo ruivo
Sua pistola no ombro que dispara pregos
Atravessou esse deserto, a seca e a lama
Para procurar alguns cruzeiros em Caruarú
Um eterno verão esmigalha o sertão
O tempo parou em pleno meio dia
Já faz muito tempo.
Esperando o inferno abaixar o abajur
Que a gente se curve sobre sua miséria de cima da Torre
Você só tem poeira para falar de amor
Cego pela luz como num forno
Que todos os cantores de feiras gritam sua canção
Mesmo se é o desespero que dá o tom
Você não tem medo da morte, até está esperando ela
Com seu Parabélum no meio do sertão
Um sol bêbado de raiva está girando no céu
E devora a paisagem de terra e de sal
Onde se vê a sombra de Lampião
De onde viraõ os cangaceiros da libertação ?
Sertão, sertão, sertão ...