Se o senhor não está lembrado
Dê-me licença para1 contar
Que aqui onde agora está
Esse alto edifício
Era uma casa velha
Um palacete2 assobradado3
Foi aqui senhor
Que eu, Mato Grosso4 e o Joca
Construímos a nossa maloca5
Mas um dia
Nós mal6 podemos nos lembrar
Vieram os homens com suas ferramentas
O dono7 mandou derrubar
Pegamos todas as nossas coisas
E fomos para o meio da rua
Apreciar a demolição
Que tristeza que nós sentíamos
Cada tábua que caía
Doía no coração
Mato Grosso quis gritar
Mas em cima8, eu falei:
“Os homens estão com a razão9
Nós arranjaremos outro lugar”
Só nos conformamos quando o Joca falou:
“Deus dá o frio conforme o cobertor”
E nós pegaremos as palhas nas gramas do jardim
E para nos esquecermos, cantamos assim:
Saudosa maloca5, maloca5 querida
Dim, dim, onde nós passamos os dias felizes das nossas vidas
Saudosa maloca5, maloca5 querida
Dim, dim, onde nós passamos os dias felizes das nossas vidas.
1. Dê-me licença para = Permita-me2. palacete: palácio pequeno; popularmente: uma casa qualquer3. sobrado (subst.): 1. piso feito de madeira; 2. Casa cujo segundo andar há uma varanda.
Assobradado (adj.): que possui uma dessas características.
(Não confundir com “assombrado”)4. Mato Grosso (MT) é um estado brasileiro, mas no caso é o apelido de um dos personagens5. a. b. c. d. e. maloca (popularmente): forma carinhosa de se chamar uma casa sem muito planejamento, malfeita; mas que traz certo sentimentalismo para o proprietário.6. a conjunção “nem” pode ser usada em linguagem oralizada, como no caso desse verso; mas, gramaticalmente, está incorreto, pois a oração não requer conjunção (por não estar ligada a outra oração). Um exemplo de uso correto:
Não conseguia falar, nem me lembrar.
(as duas orações são separadas pela vírgula)7. provavelmente o dono do terreno.8. “em cima” seria falando por cima, impedindo a ação anterior do outro (Mato Grosso)9. estar com a razão: ter razão; estar certo