Quase Lenda [Uma Opereta Tupiniquim]

[Português]

Gira moinho as horas do girassol

Estrangeiro no mar, outras índias e ribeirões.

Terra à vista, vigia do meio do mato

Os olhos do gato, platéia da invasão.

[Índio]

Abaigá, fera voraz, cachimbo da paz, aroeira, arara azul.

Uma eterna manhã, queira branco deixar índio viver.

Os tambores da taba de Tupã.

Natureza é sossego, é py-atã!

[Português]

Meu cordial hospedeiro, preciso primeiro

Dar graças a Deus e notícias para o meu rei.

Mil caravelas virão, ou até de avião.

Pelo ar, pelo chão, minha cruz será tua lei.

[Índio]

Abaré, Jurupari jogou sete pragas no povo tupinambá.

Viu na palma da mão o futuro presente a repassar.

É queimada largando o bororé.

O veneno sangrando é chaminé.

[Natureza]

Esaê, esaê, t’esá-etá, Esaê, esaê, t’esá-etá,

Esaê, esaê, t’esá-etá, Esaê, esaê...

[Português]

Se é pelo bem da Coroa, quem mate ou quem morra,

Não sendo Lisboa, que seja quem não gostar.

De norte a sul demarquei este solo e mandei

Pôr a mão do feitor na favela e no congá.

[Índio]

Sucuri, flecha de pau e pena não vão destruir todo seu poder.

Pindorama, perdão! Anhangüera ferina escravidão.

Traz um relho e a soberba no olhar

Coração traiçoeiro de amar.

[Narrador]

Nessa praia onde canta o sabiá.

Onde vive o Saci e o M’boitatá

Liberdade não tarda por voltar

Brasil!

[O povo]

Caldo de cana caiana, pastel com banana, pimenta baiana, olha o acarajé!

Uca, cumbuca, tabaco, cuíca, cavaco, repique, sopapo, bumbo e berimbau.

Caldeirão, todas as raças sobem no mesmo balão, pelo fino vão

Pela constelação, terra em transe no alto do Xingu.

Jararaca, jibóia e jacaré

Quase lenda, crendice, toda fé.

[Natureza]

Esaê, esaê, t’esá-etá, Esaê, esaê, t’esá-etá,

Esaê, esaê, t’esá-etá, Esaê, esaê, t’esá-etá,

Esaê, esaê, t’esá-etá, Esaê, esaê, t’esá-etá,

Esaê, esaê, t’esá-etá, Esaê, esaê t’esá-etá,...