Quando eu morrer quero ficar
Quando eu morrer quero ficar,
Não contem aos meus inimigos,
Sepultado em minha cidade,
Saudade.
Meus pés enterrem na rua Aurora1,
No Paissandu2 deixem meu sexo,
Na Lopes Chaves1 a cabeça
Esqueçam.
No Pátio do Colégio3 afundem
O meu coração paulistano:
Um coração vivo e um defunto
Bem juntos.
Escondam no Correio o ouvido
Direito, o esquerdo nos Telégrafos,
Quero saber da vida alheia,
Sereia.
O nariz guardem nos rosais,
A língua no alto do Ipiranga4
Para cantar a liberdade.
Saudade...
Os olhos lá no Jaraguá5
Assistirão ao que há de vir,
O joelho na Universidade,
Saudade...
As mãos atirem por aí,
Que desvivam como viveram,
As tripas atirem pro Diabo,
Que o espírito será de Deus.
Adeus.
1. a. b. Uma rua na cidade de São Paulo2. Largo do Paissandu, em São Paulo3. Uma igreja e uma escola históricas, em São Paulo4. Alto do Ipiranga, um bairro de São Paulo5. Um bairro de São Paulo