Como todas as manhãs
O sol nasce entre os prédios
Por volta das sete e meia
Eu abro a minha janela
Sempre o mesmo homem
Fazendo sua corrida matinal!
Eu me visto
Me maquio
Tomo um café preto grande
Meus óculos
Minha bolsa
Acessórios obrigatórios
Os espelhos do corredor
Multiplicam minha silhueta
O elevador me assusta
A cada andar, meu coração para
Me dê, me dê oxigênio
Me dê oxigênio
Me dê, me dê oxigênio, me dê oxigênio
Em uma aula da escola
Uma criança brinca com uma bola verde
De repente coloca
A mão no pescoço
E cai no chão
Sufocando sem ar
De meio-dia e meia
Tomando mais um café preto grande
Eu como uma só laranja
Pra aguentar até de noite
Às quatro, eu me espreguiço
Por um momento
As pernas na vertical
Eu inspiro e expiro em
Um movimento mecânico
Me dê, me dê oxigênio
Me dê oxigênio
Me dê, me dê, me dê oxigênio, me dê oxigênio
Em uma ambulância
Atravessando a cidade
A duzentos por hora
Levam pra urgência
Um homem paralisado
Com uma pilha no lugar do coração - Toda semana eu me mato de trabalhar das nove às cinco
O engarrafamento me deixa nervosa
Quando eu dirijo de noite
O estacionamento do prédio
Sempre tem o mesmo cheiro
Chegando no apartamento
Eu ligo meu ar-condicionado