É de uma paisagem nossa
Que nasce a canção.
De um barco a entrar a Barra1,
De um arrastão.
Do pregão 2 da peixeira,
Na rua ao nascer do dia 3,
E do sol, da ceifeira,4,
Nasce a melodia.
E o miradouro,
Lisboa é uma canção.
De Santa Luzia,
O Tejo é inspiração.
Mas não chega o cantador,
Depois dar um assobio,
E com o orquestrador,
Já se ouve um rio.
Traz a viola,
O som da guitarra,
O adufe, o bombo, os ferrinhos.
Toca a concertina,
A flauta, o tambor,
A tuba e o cavaquinho,
Que dão ao cantor
A força e o amor
Que sentiu o compositor.
No som que ele quis,
Há todo um país
Às mãos do orquestrador.
De uma lezíria 5 alagada,
Nasce uma canção,
Pelo fim duma seca
Que deu outro verão.
De domingo de feira,
Ou de uma romaria,
De baile na eira,
Nasce a melodia.
Do alto de qualquer serra,
Se ouve a canção,
Seja Estrela ou Peneda,
Monchique ou Marão 6.
Mas não chega o rumor,
Uma flauta a gemer.
É preciso orquestrador
Pra canção se ver.
Traz a viola,
O som da guitarra,
O adufe 7, o bombo, os ferrinhos.
Traz a concertina,
A flauta, o tambor,
A tuba e o cavaquinho,
Que dão ao cantor
A força e o amor
Que sentiu o compositor.
No som que ele quis,
Há todo um país
Às mãos do orquestrador!
Traz a viola
O som da guitarra
O adufe, o bombo, os ferrinhos.
Traz a concertina,
A flauta, o tambor,
A tuba e o cavaquinho,
Que dão ao cantor
A força e o amor
Que sentiu o compositor.
No som que ele quis,
Há todo um país
Às mãos do orquestrador!
Do orquestrador!
1. Entrada do estuário do rio Tejo2. Os pregões são vozes ou pequenas melodias, uma espécie de marketing, com que os vendedores ambulantes anunciam a sua mercadoria.3. Antigamente, as peixeiras percorriam as ruas de Lisboa com o peixe à cabeça logo de manhã cedo.4. Antigamente, quando não havia ceifa mecânica, as mulheres ceifavam o trigo e cantavam para amenizar a dureza deste trabalho 5. Terra plana, nas margens do Rio Tejo, que se alaga na ocasião das cheias.6. Montanhas mostradas nos vídeos anexados.7. É um pandeiro membranofone quadrangular. No seu interior são colocadas sementes ou pequenas soalhas a fim de enriquecer a sonoridade.