Eu caí de joelhos diante do amor transtornado do teu rosto
Estavas alta e imóvel — mas teus seios vieram sobre mim e me
. . feriram os olhos
E trouxeram sangue ao ar onde a tempestade agonizava.
Subitamente cresci e me multipliquei ao peso de tanta carne
Cresci sentindo que a pureza escorria de mim como a chuva
. . dos galhos
E me deixava parado, vazio para a contemplação da tua face.
Longe do mistério do teu amor, curvado, eu fiquei ante tuas partes
. . intocadas
Cheio de desejo e inquietação, com uma enorme vontade de chorar
. . no teu vestido.
Para desvendar as tuas formas nas minhas lágrimas
Agoniado abracei-te e ocultei o meu sopro quente no teu ventre
E logo te senti como um cepo e em torno a mim eram monges
. . brancos em ofício de mortos
E também — quem chorou? — vozes como lamentações
. . se repetindo.
No horror da treva cravou-se em meus olhos uma estranha
. . máscara de dois gumes
E sobre o meu peito e sobre os meus braços, tenazes de fogo,
. . e sob os meus pés piras ardendo.
Oh, tudo era martírio dentro daquelas vozes soluçando
Tudo era dor e escura angústia dentro da noite despertada!
“Me salvem — gritei — me salvem que não sou eu!” — e as
. . ladainhas repetiam — me salvem que não sou eu!
E veio então uma mulher como uma visão sangrenta de revolta
Que com mão de gigante colheu o que de sexo havia em mim e o
. . espremeu amargamente
E que separou a minha cabeça violentamente do meu corpo.
Nesse momento eu tive de partir e todos fugiam aterrados
Porque misteriosamente meu corpo transportava minha cabeça
. . para o inferno..