No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida;
Um corpo que respira, um céu aberto...
Janela debruçada para a vida.
No teu poema
Existe a dor calada lá, no fundo,
O passo da coragem em casa escura
E, aberta, uma varanda para o mundo.
Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da Senhora da Agonia
E o cansaço do corpo que adormece em cama fria...
Existe um rio;
A sina de quem nasce fraco ou forte,
O risco, a raiva e a luta
De quem cai ou que resiste,
Que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha,
A dor que sei de cor, mas não recito,
E os sonos inquietos de quem falha.
No teu poema
Existe um canto chão alentejano,
A rua e o pregão duma varina
E um barco assoprado a todo o pano!
Existe um rio;
O canto em vozes juntas, vozes certas!
Canção de uma só letra e um só destino, a embarcar
No cais da nova nau das Descobertas!
Existe um rio;
A sina de quem nasce fraco ou forte,
O risco, a raiva e a luta
De quem cai ou que resiste,
Que vence ou adormece antes da morte.
No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do mundo,
Existe tudo mais que ainda me escapa...
É um verso em branco à espera do futuro!