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No Ano da Fome lyrics
No Ano da Fome lyrics
turnover time:2024-12-24 13:10:59
No Ano da Fome lyrics

Tudo começou com pedaços de unhas que venderam

Quando descobriram que era a cura pras doenças que aprenderam

Então cortaram unhas e depois resolveram

Caçar unhas nos cadáveres que se desintegram

Depois alguém disse que o cabelo também é remédio

Misturado com as unhas faz o pénis ficar um prédio

Muitos ficaram carecas pra crescer esse negócio

Até comprava-se réguas pra oferecer a cada sócio

A seguir descobriram a utilidade do suor

Então alguém suava pra o outro ganhar melhor

Vendia-se em colherinhas esse líquido com sal

Misturado com saliva cuspida e cheirava mal

Saliva, já ninguém cuspia de borla

Cada litro produzido, valia um Dólar

Esse era chamado o negócio da liquidez

A saliva de cada dia era paga ao fim do mês

Dizem que ninguém sabia ao certo o que era certo

Mas o negócio rendia quando a fome chegava perto

Tudo se vendia a centímetro ou a metro

Naquele ano cada vida era um objecto

Macaia

Tu tens a chance de ser a minoria

E conseguir mostrar que o amanhã...

Que o amanhã pode ser usado por cada um dos nós

Para provar que a esperança não morre

Das raças misturadas surgiram novas raças

Então a fome batia a porta de novas casas

Essa fome era maldita e chegava de repente

E foi aí que descobriram que se podia vender gente

Às vezes por inteiro, outras vezes em bocados

Muitas vezes por dinheiro, outras vezes por um cargo

novo de chefia numa empresa da capital

E assim decepava-se outra cabeça nacional

As autoridades perderam autoridade sobre esse crime

Deixou de ser crime, virou fraqueza do regime

Uns dormiam gradeados com medo de perder um braço

O mercado especulativo pagava bem por um pedaço

E pra matar a fome há quem matava uma pessoa

Quantos perderam a vida pra os outros ganhar vida boa?!

Naquele ano já nem se pensava em matar animais

As pessoas pesavam-se em Dólares ou Meticais

E digo mais... surgiram os canibais

Com um fome daquele ano, filhos comeram pais

Quando a barriga rói, há sempre um atalho

Toda gente já sabia o que se vendia no talho

Sem trabalho, sem perspectiva de vida

No ano da fome, nenhum beco tinha saída

Matava-se por comida, e todos eram comida

Todos mentiam, mas a verdade era sabida

Macaia

Tu tens a chance de ser a minoria

E conseguir mostrar que o amanhã...

Que o amanhã pode ser usado por cada um dos nós

Para provar que a esperança não morre

Havia fome, mas era necessário haver lei

É que no meio dos escravos há sempre quem quer ser rei

Foi aí que se decidiu que não podiam morrer todos

Todos eram valiosos, mas valiam mais os outros

Então foi decretado, só se matava os diferentes

Estrangeiros, aleijados, mendigos e indigentes

Raças misturadas com cores irreverentes

Os compradores analisavam os olhos e os dentes

A febre era total, coitados dos albinos

Eles foram perseguidos e vendidos como caprinos

Muitos clamaram a Deus pelos seus destinos

Com medo que a fome viesse buscar os seus filhos

Pandemónio, cada Homem era um demónio

Ninguém podia confiar no seu próprio neurónio

Quanto mais no do vizinho, houve quem viveu sozinho

Houve quem morreu com todos embriagado pelo vinho

Mas depois daquele ano tudo ficou mais estranho

Todos ficaram diferentes na cor e no tamanho

A mistura era completa, todos podiam ser mortos

E foi aí que todos temeram apontar os outros

Mas depois daquele ano tudo ficou mais estranho

Todos ficaram diferentes na cor e no tamanho

A mistura era completa, todos podiam ser mortos

E foi aí que todos temeram apontar os outros

Macaia

Tu tens a chance de ser a minoria

E conseguir mostrar que o amanhã...

Que o amanhã pode ser usado por cada um dos nós

Para provar que a esperança não morre

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