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Morte e Vida Severina - Canto 7
Morte e Vida Severina - Canto 7
turnover time:2024-09-19 21:07:52
Morte e Vida Severina - Canto 7

O RETIRANTE CHEGA À ZONA DA MATA, QUE O FAZ PENSAR, OUTRA VEZ, EM

INTERROMPER A VIAGEM.

— Bem me diziam que a terra

se faz mais branda e macia

quando mais do litoral

a viagem se aproxima.

Agora afinal cheguei

nesta terra que diziam.

Como ela é uma terra doce

para os pés e para a vista.

Os rios que correm aqui

têm água vitalícia.

Cacimbas por todo lado;

cavando o chão, água mina.

Vejo agora que é verdade

o que pensei ser mentira

Quem sabe se nesta terra

não plantarei minha sina?

Não tenho medo de terra

(cavei pedra toda a vida),

e para quem lutou a braço

contra a piçarra da Caatinga

será fácil amansar

esta aqui, tão feminina.

Mas não avisto ninguém,

só folhas de cana fina;

somente ali à distância

aquele bueiro de usina;

somente naquela várzea

um bangüê velho em ruína.

Por onde andará a gente

que tantas canas cultiva?

Feriando: que nesta terra

tão fácil, tão doce e rica,

não é preciso trabalhar

todas as horas do dia,

os dias todos do mês,

os meses todos da vida.

Decerto a gente daqui

jamais envelhece aos trinta

nem sabe da morte em vida,

vida em morte, Severina;

e aquele cemitério ali,

branco de verde colina,

decerto pouco funciona

e poucas covas aninha.

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