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Morte e Vida Severina - Canto 2 [French translation]
Morte e Vida Severina - Canto 2 [French translation]
turnover time:2024-09-19 21:00:16
Morte e Vida Severina - Canto 2 [French translation]

A quem estais carregando,

irmãos das almas,

embrulhado nessa rede?

dizei que eu saiba.

A um defunto de nada,

irmão das almas,

que há muitas horas viaja

à sua morada.

E sabeis quem era ele,

irmãos das almas,

sabeis como ele se chama

ou se chamava?

Severino Lavrador,

irmão das almas,

Severino Lavrador,

mas já não lavra.

— E de onde que o estais trazendo,

irmãos das almas,

onde foi que começou

vossa jornada?

— Onde a Caatinga é mais seca,

irmão das almas,

onde uma terra que não dá

nem planta brava.

— E foi morrida essa morte,

irmãos das almas,

essa foi morte morrida

ou foi matada?

— Até que não foi morrida,

irmão das almas,

esta foi morte matada,

numa emboscada.

— E o que guardava a emboscada,

irmão das almas

e com que foi que o mataram,

com faca ou bala?

— Este foi morto de bala,

irmão das almas,

mas garantido é de bala,

mais longe vara.

— E quem foi que o emboscou,

irmãos das almas,

quem contra ele soltou

essa ave-bala?

— Ali é difícil dizer,

irmão das almas,

sempre há uma bala voando

desocupada.

— E o que havia ele feito

irmãos das almas,

e o que havia ele feito

contra a tal pássara?

— Ter um hectare de terra,

irmão das almas,

de pedra e areia lavada

que cultivava.

— Mas que roças que ele tinha,

irmãos das almas

que podia ele plantar

na pedra avara?

— Nos magros lábios de areia,

irmão das almas,

os intervalos das pedras,

plantava palha.

— E era grande sua lavoura,

irmãos das almas,

lavoura de muitas covas,

tão cobiçada?

— Tinha somente dez quadras,

irmão das almas,

todas nos ombros da serra,

nenhuma várzea.

— Mas então por que o mataram,

irmãos das almas,

mas então por que o mataram

com espingarda?

— Queria mais espalhar-se,

irmão das almas,

queria voar mais livre

essa ave-bala.

— E agora o que passará,

irmãos das almas,

o que é que acontecerá

contra a espingarda?

— Mais campo tem para soltar,

irmão das almas,

tem mais onde fazer voar

as filhas-bala.

— E onde o levais a enterrar,

irmãos das almas,

com a semente do chumbo

que tem guardada?

— Ao cemitério de Torres,

irmão das almas,

que hoje se diz Toritama,

de madrugada.

— E poderei ajudar,

irmãos das almas?

vou passar por Toritama,

é minha estrada.

— Bem que poderá ajudar,

irmão das almas,

é irmão das almas quem ouve

nossa chamada.

— E um de nós pode voltar,

irmão das almas,

pode voltar daqui mesmo

para sua casa.

— Vou eu que a viagem é longa,

irmãos das almas,

é muito longa a viagem

e a serra é alta.

— Mais sorte tem o defunto

irmãos das almas,

pois já não fará na volta

a caminhada.

— Toritama não cai longe,

irmãos das almas,

seremos no campo santo

de madrugada.

— Partamos enquanto é noite

irmãos das almas,

que é o melhor lençol dos mortos

noite fechada.

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