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Morte e Vida Severina - Canto 11
Morte e Vida Severina - Canto 11
turnover time:2024-11-12 18:51:23
Morte e Vida Severina - Canto 11

O RETIRANTE APROXIMA-SE DE UM DOS CAIS DO CAPIBARIBE

— Nunca esperei muita coisa,

é preciso que eu repita.

Sabia que no rosário

de cidade e de vilas,

e mesmo aqui no Recife

ao acabar minha descida,

não seria diferente

a vida de cada dia:

que sempre pás e enxadas

foices de corte e capina,

ferros de cova, estrovengas

o meu braço esperariam.

Mas que se este não mudasse

seu uso de toda vida,

esperei, devo dizer,

que ao menos aumentaria

na quartinha, a água pouca,

dentro da cuia, a farinha,

o algodãozinho da camisa,

ao meu aluguel com a vida.

E chegando, aprendo que,

nessa viagem que eu fazia,

sem saber desde o Sertão,

meu próprio enterro eu seguia.

Só que devo ter chegado

adiantado de uns dias;

o enterro espera na porta:

o morto ainda está com vida.

A solução é apressar

a morte a que se decida

e pedir a este rio,

que vem também lá de cima,

que me faça aquele enterro

que o coveiro descrevia:

caixão macio de lama,

mortalha macia e líquida,

coroas de baronesa

junto com flores de anhinga,

e aquele acompanhamento

de água que sempre desfila

(que o rio, aqui no Recife,

não seca, vai toda a vida).

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