Vamos nós, oh Virgininha!
Não desprezes teu vizinho,
Que eu tenho pensado há dias
Que é triste viver sozinho.
Que é triste viver sozinho...
Se for da tua vontade
Fazermos um arranjinho?
Diga o que quer senhor Paulo.
Ai, talvez queira casar;
Um homem da sua idade
Já pouco pode arranjar!
Ora diga as condições
Nada se faz sem falar...
Aborrece-me estar só.
Tenho bastante de meu;
Há dias vi-te passar,
Nova esperança me nasceu.
Ai, nova esperança me nasceu!
Se aceitares o meu pedido,
Chamarás a tu o que é meu.
De que serve um homem rico,
Velho, cansado e encolhido?
Por mais que a mulher o gabe,
Ele fica sempre consigo;
Por mais calor que lhe faça,
Nunca o acha resolvido.
Tenho calor, tenho força
Ainda brincar me apetece;
Não me achavas encolhido
Se em tua cama eu estivesse!
Ai, se em tua cama eu estivesse:
Havias de ver o velho,
Se eu apanhar-te pudesse...
Já que ninguém gaba o velho,
Terá o velho de se gabar!
Já tem corcundas nas costas,
As barbas a desmaiar...
Não ouve cantar o cuco
Se o inverno apertar!
Ai, tu dizes que eu não posso,
Mas eu hei-de te dar a prova:
Tu hás de morrer primeiro,
Eu hei de ir levar-te à cova!
Eu hei de ir levar-te à cova
E, tendo mulher pró inverno,
Ainda faço gente nova…
Vá-se embora c’os diabos,
Deixe-me o nome em sossego!
Pode não lembrar de longe,
Quem te paga não faz nego.
Quando arranjar uma quinta
Hei-de lhe dar um emprego...
Emprega-me, oh Virgininha!
Que serei o teu amigo,
Mas não compres quinta alguma
Repara pró que eu te digo!
Repara pró que te digo:
Antes me faças feitor
Do que te traces comigo!
Tinha desgosto nisto
Em me te dar empregado
O fruto da minha quinta.
Quer-se mais bem cultivado,
Deus me não dê o castigo
Dum feitor tão acabado!
Oh, brilhante sociedade!
Minha ventura foi pouca:
Virgininha foi-se embora,
Fiquei com a água na boca...
Oh, fiquei com água na boca!
Oh brilhante sociedade,
Minha ventura foi pouca!
É verdade…
E ora adeus!