Às vezes a gente está cansada
Às vezes a gente está cega
Nós temos medo e somos estúpidos
pois estamos tão perdidos
Cara, assim é que eles nós querem
e assim eles precisam de nós.
Todos nós enterrados em nós mesmos
com apenas o suficiente pra morrer.
Nós gritamos e marchamos,
estamos bonzinhos e obedientes
enquanto trazemos a presa
em quatro patas
Somos pra ser mandados
queremos nos estabelecer
e arretar aqueles
que pintam grafites nos muros
Isso significa funcionar
morrer congelados fazendo o amor
xingar a mulher
e recompensar rápido
atacar o amigo
se marcar com um número.
E aqueles que se candidatam
e aqueles que residem
que usam e gente
que nós comandam
quando exercitamos pela guerra
quando retiramos os escalpes dos povos
e quando ocupamos
e liquidamos os inimigos
e borramos países
e também quando morremos
eles podem se felicitar.
Mas nascemos
sem botas e esporas
como pessoas, não como macacos
nus, sem armas
desprotegidos e abertos
para estudar e esperar
para fazer poesia e elogiar
e aquecer os outros
Para chorar e rir
e dormir e acordar
Para sonhar e voar
e ter filhos
Com amor e preocupações
para noites e manhãs
Para fazer tricot e costurar
para colher e semear
para comer e tomar
se inundar em desejos
para conversar e brigar
e espalhar curiosidade
Para festejar e lamentar
ter calafrios de saudade
Para atuar e querer
para brincar e malucar
Para quebrar o medo
despedaçar o frio
em mil pedaços
para não morrer sozinho
e para fazer a paz
e nunca mais atirar