Que xaile de silêncio nos deixaste!
Que forma tão estranha de viver!
Ó voz, que ardes na sombra: espinho e haste...
Lenço acenando em cada entardecer.
Ao anjo português, branca tormenta
Que os fados te embalou, rezaste o terço
E os barcos, carregados de pimenta,
Por ti se tornariam nosso berço.
As mães em ti cantavam docemente,
Doridas pela chama da amargura...
E a urze, dos pinhais, nascia rente
À terra que lhes fora sepultura!
Soubeste a cama estreita das varinas;
A malga, o beijo, o sono das colheitas...
O vulto dos amantes nas esquinas,
E o voo da gaivota mais perfeita!
[Instrumental]
Que xaile de silêncio nos deixaste!
Que forma tão estranha de viver!
Ó voz, que ardes na sombra: espinho e haste...
Lenço acenando em cada entardecer.