Venho a ti de mãos abertas,
Como se fossem de espanto;
Trago a chama dos poetas
Sob uma vela de pranto...
Venho a ti de mãos fechadas,
Como se fossem de bruma;
Trago a flor das madrugadas
Nos meus cabelos de espuma!
Venho de longe, Lisboa,
Desaguar no teu regaço
O meu corpo de canoa,
Amortalhado de espaço.
Venho de longe, Lisboa,
Agasalhar no teu cais
O meu corpo de falua,
Despido nos temporais!
Venho a ti de mãos vazias,
Perdi sonhos no caminho;
Quero pousar os meus dias
No teu vestido de linho.
Venho a ti de pés descalços,
Como se fossem de vento;
Sou a sombra de dois braços
Na loja do esquecimento...
Só tu sabes o meu nome:
Por isso a ti me confio!
Com fados, mata-me a fome;
Com penas, tira-me o frio...
Quero voar no teu sono,
Como a gaivota no rio
Que viveu por não ter dono,
Que morreu por desafio!
[Instrumental]
Quero voar no teu sono,
Como a gaivota no rio
Que viveu por não ter dono,
Que morreu por desafio!