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Les poètes de sept ans [Portuguese translation]
Les poètes de sept ans [Portuguese translation]
turnover time:2024-11-25 16:23:18
Les poètes de sept ans [Portuguese translation]

Ao Sr. P. Demeny

E a mãe, fechando o livro do dever,

Retirou-se satisfeita e orgulhosa sem reparar

Que nos olhos azuis e sob o rosto crivado de saliências,

A alma do seu filho estava cheia de repugnâncias.

Todos os dias ele suava de obediência, todo

Inteligente; ainda que fosse de hábitos sórdidos,

Alguns traços provavam que tinha hipocrisias acerbas.

À sombra dos corredores de cortinas baças,

Punha a língua de fora, os punhos nas virilhas,

E com os olhos fechados via as fulgurações.

Uma porta abriu-se na noite: à luz do candeeiro

Era avistado além, ofegando no corrimão,

Sob um golfo de dia suspenso do tecto. No Verão

Principalmente, derrotado e estúpido, insistia

Em encerrar-se na frescura das latrinas:

Tranquilamente cogitava e aliviava as narinas.

Quando no Inverno, limpo dos odores do dia,

O pátio atrás da casa era inundado pela lua,

Reclinado num muro, enterrado no barro

E com os olhos negros por causa das visões,

Ele ouvia levedar as trepadeiras sarnentas.

Piedade! A sua única família eram essas crianças

Banais e desamparadas, olhos perdidos no rosto,

Que, com os dedos amarelados de lama escondidos

Sob as roupas antiquadas e a cheirar a merda,

Falavam com a doçura dos idiotas!

E se a mãe se assustava ao apanhá-lo entregue

A compaixões imundas; as ternuras profundas

Da criança redimiam-na daquela surpresa.

Essa é que é essa. Ele fazia aquele olhar, – levava-a bem!

Aos sete anos inventava histórias sobre a vida

No grande deserto, onde resplandecia a liberdade violada,

Florestas, sóis, rios, savanas! – Para tal valia-se

De revistas ilustradas nas quais Espanholas

E Italianas sorridentes o embaraçavam.

Então vinha a filha dos operários vizinhos,

Com os seus olhos castanhos e vestes Indianas,

– oito anos, – a pequena bruta,

E agitando as tranças surpreendia-o num canto

Saltando-lhe para as costas, e ele, ao ver-se

Debaixo dela, mordia-lhe as nádegas

Pois ela nunca usava calcinhas;

– E porque ela o magoava com os punhos e os calcanhares,

Ele trazia para o quarto o cheiro da sua pele.

Temia os tristes domingos de Dezembro,

Quando, penteadinho, sentado numa mesa de mogno,

Lia uma bíblia com as margens de cor verde-repolho;

Os sonhos oprimiam-no todas as noites na alcova.

Não gostava de Deus; só dos homens negros e em camisa

Que na noite fulva regressavam aos subúrbios

Onde os vendedores ambulantes, com três rufos de tambor,

Faziam a multidão rir e gozar com os éditos.

– Sonhava com estepes de amor, onde luzes ondulantes,

Perfumes salubres e tumescências de ouro

Se iam meneando devagar e levantando voo.

E como ele saboreava especialmente as coisas sombrias,

Quando, na sala vazia, ampla e azul,

De persianas fechadas e sujeita à humidade,

Ele lia o seu romance continuamente meditado,

Cheio de céus ocres e de florestas inundadas,

De flores de carne implantadas nas madeiras siderais,

Vertigens, colapsos, derrotas e compaixão!

– Enquanto em baixo crescia o rumor no subúrbio,

– Deitado sozinho sobre pano-cru,

Ele pressentia com violência a partida iminente.

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Arthur Rimbaud
  • country:France
  • Languages:French
  • Genre:Poetry
  • Wiki:https://en.wikipedia.org/wiki/Arthur_Rimbaud
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