Ó Laurinda, linda, linda
És tão linda como o sol!
Deixa-me dormir-me à noite
Nas dobras do teu lençol...
Sim! Sim, cavaleiro, sim!
Hoje sim, amanhã não...
Meu marido não'stá cá:
Foi prà feira de Garvão.
Onze horas, meia-noite...
Marido à porta bateu!
Bateu uma, bateu duas;
Laurinda não respondeu.
«Ou ela está doentinha,
Ou já tem outro amore,
Ou então procura a chave
Lá no mei'do corredore...»
«De quem é este chapéu
Debruado a galão?»
É para ti, meu marido,
Que fiz eu por minha mão.
«De quem é esse casaco
Que ali vejo eu pendurado?»
É para ti, meu marido,
Que o trazes bem ganhado!
«De quem é este cavalo
Que na minha esquadra entrou?»
É para ti, meu marido:
Foi teu pai quem t'o mandou.
«De quem é aquele suspiro
Que ao meu leito se atirou?»
Laurinda, que aquilo ouviu,
Caiu no chão... Desmaiou!
«Ó Laurinda, linda, linda
Não val a pena desmaiares:
Todo amor que t'eu tinha
Vai-se agora acabare!»
«Vai buscar às tuas irmãs:
Traz a todas num andore.
Que, a mais linda delas todas,
Há-de sere o meu amore.»