Há dias que
Debruçado no balcão
Perdi o trabalho
Papeando com um pardal
Mais chato que eu.
Ou olhando como
Se esfolha uma azinheira,
Cheirando alecrim.
Como voltam a florar
E voltam a se esfolhar.
Há dias que já não sei quantos dias passaram.
Há dias que sigo repetindo... Amanhã
E espero...
E espero...
Vivendo com nente.
Trabalhando para nente
E, um dia, como se não fosse nente
Morrer sem razão.
Adéus. Obrigado.
Estou cá, no fundo dum bar
Bebendo um café arrosé
Para me esquentar o coração
Enquanto a morte me chegar
Para jogar às cartas.
Faz dias que já nem sei quantos dias passaram.
Faz dias que sigo repetindo... Amanhã
E espero...
E espero...
E espero...
Debruçado no balcão
Espero.
Despindo o horizonte
Espero.
Espero, para minha ledice
E para minha mágoa,
Durante o dia e durante a noite
Que volte Helena...
Que volte Helena!
Por que quando ela anda pela minha rua
Deica os gerânios lhe piscam o olho.
O ar amorna com seu fôlego
E os ladrilhos olham para cima
À sua pele trigueira.
Quando passa Helena.
Quando ela olha sabes que a fonte da vida
Quando ela o quer, a entrega.
Quando ela chora, sabes o que é a aflição.
Quando ela cala, meu ser inteiro treme.
Quando ela ama, o amor voa livre...
E o sol balança-se entre os telhados
E os pintarroxos sobre os cabos da iluminação
Olham, ciumentos, como ri e se move.
Cor de longa espera e perfume
De lua cheia
Minha Helena.
Minha Helena...
Mas...
Faz dias que
Ficar de pé me laidou
O reumatismo quebrou meus dedos
E já fugiu o derradeiro pardal.