Estava a bela Infanta
No seu jardim assentada.
Com um pente de ouro fino
Os seus cabelos penteava.
Deitou os olhos ao mar,
Viu vir uma grande armada!
Capitão que nela vinha,
Muito bem a guardava.
- «Dizei-me vós, capitão
Dessa tão formosa armada,
Se vistes o meu marido
Na terra que Deus pisava?»
- «Anda tanto cavalheiro
Naquela terra sagrada!
Mas dizei-me vós, senhora
Os sinais que ele levava.»
- «Levava cavalo branco,
Selim de prata dourada;
Na ponta da sua lança,
A cruz de Cristo levava.»
- «Pelos sinais que me destes,
Tal cavaleiro não vi.
Mas, quanto derais, senhora,
A quem o trouxer aqui?»
- «Daria tanto dinheiro
Ai! Que não tem ponto nem fim,
E as telhas do meu telhado,
Que são de ouro e marfim!»
- «Guardai o vosso dinheiro;
Não o quero para mim.
Que daríais mais, senhora,
A quem o trouxer aqui?»
- «As três meninas que tenho,
Todas casaria a ti;
A mais formosa de todas
Para contigo dormir!»
- «As vossas filhas, Infanta,
Não... São demais para mim!
Que daríais mais, senhora,
A quem o trouxer aqui?»
- «Não tenho mais que te dar,
Nem tenho mais que te pedir!»
- «Dá-me outra coisa, senhora,
Se queres que eu o traga aqui!»
- «Este anel de sete pedras
Que eu contigo reparti...
Que é dela, a outra metade?
Pois a minha, vê-la aqui!»
- «Tantos anos que chorei,
Tantos sustos que tremi!
Deus te perdõe, marido,
Que me ias matando a mim!»