Você começou sua vida
próximo à borda dum riacho.
Você viveu daqueles barulhos,
que correm nos juncos,
que sobem caminhos,
que filtram a talhadia,
as asas do moinho,
os sinos de meio-dia.
Sublinhando com um sorriso
a canção dum pássaro,
você sentia prazer
ao fazer rodas n'água.
Hoje, você se agita
em águas menos tranquilas.
Você se encarniça e flutua.
Mas e o amor, onde está?
A ambição tem leis.
A ambição é um culto.
Você queria que sua voz
dominasse o tumulto.
Você queria que te amassem
um pouco como um herói,
mas quem saberia, mesmo assim,
fazer rodas n'água.
Se há todos esses testemunhos
que você quer em suas costas.
Diga que bem que eles poderiam,
ante as suas rodas n'água,
te tomar de idiota,
o idiota da sua vila,
que ficou lá
para fazer rodas n'água.
Para fazer rodas n'água.