Pelas raias de Espanha nas sombras da noite
Passava um cigano no seu alazão
O vento brandia seu nórdico açoite
As folhas rangiam caídas no chão.
E já embrenhado no alto Alentejo
Nas sombras da noite tingidas de breu
Nem mais uma praga nem mais um desejo
Aos ecos distantes o pobre gemeu.
Não há maior desengano
Nem vida que dê mais pena
Do que a vida de um cigano
Atravessar a fronteira
Para ser atravessado
Por uma bala certeira
E tudo porque o destino
Só fez dele um peregrino
Companheiro do luar
Um pobre judeu errante
Que não tem pátria nem lar.
E o contrabandista temido e valente
Voltava de Espanha no seu alazão
Um tiro certeiro e o braço dormente
E um rasto de sangue marcado no chão.
E já embrenhado no alto Alentejo
Nas sombras da noite tingidas de breu
Nem mais uma praga nem mais um desejo
Aos ecos distantes o pobre gemeu.
Não há maior desengano
Nem vida que dê mais pena
Do que a vida de um cigano
Atravessar a fronteira
Para ser atravessado
Por uma bala certeira
E tudo porque o destino
Só fez dele um peregrino
Companheiro do luar
Um pobre judeu errante
Que não tem pátria nem lar.