Desde puto os meus pais me incutiram a lição
Para que eu soubesse do lugar para onde os mortos vão
Os bons vão ao paraíso os maus vão ao inferno
E toda a gente está esperando pelo seu lugar eterno
Agora eu sei que é maningue fácil prever
O lugar para onde vai um gajo da rua quando morrer
Apesar de nascer na miséria e lá crescer
Muito cedo aprender que nada tem a perder
Dizem-lhe que o desprevilégio é para testar a fé
E isso é algo que ele não consegue entender
Como é que a sociedade ele tem que encarar
Se é a própria sociedade que está a lhe marginalizar
E não lhe dá valor respeito e nem calor
Fingindo não ouvir o som do seu clamor
Ainda dizem que depois da morte será pior
Porque optou pelo crime para atenuar a dor
Abram os olhos
Não é um sonho
As ruas estão criando monstros
Abram os olhos
Não é um sonho
As ruas estão criando monstros
Imagina-te meu irmão dormindo ao relento
Exposto a todos os ventos ao frio e ao tormento
A tua roupa rasgada é na noite o teu cobertor
Da vida tens rancor e de nada tens pudor
A tua casa e todo o sítio nunca tiveste 1 colchão
Na saúde e na doença o teu lugar foi sempre o chão
Ninguém te da atenção te tratam pior que cão
Tu estas desse lado mas doutro lado há 1 mansão
Recheada de comida que até apodrece
Porque de fome e de doença lá dentro ninguém padece
Agora diga-me qual é o plano para encher a barriga
Se quando vais pedir auxílio ninguém te liga
E se insistes espancam-te como se fosses 1 objecto
Devolvem-te ao lixo ao lado dos dejectos
Sentes dor sentes fome nada tens vives mal
E como se não bastasse dizem que és marginal
Abram os olhos
Não é um sonho
As ruas estão criando monstros
Abram os olhos
Não é um sonho
As ruas estão criando monstros
Agora que já sabes o que é viver na rua
Tenho a certeza que farás da luta dos putos a tua
Melhor entenderás o que se passa em sua mentes
E nunca acharás os seus actos inconscientes
Nem mesmo inconsequentes porque eles sabem
Que o seu destino já estava traçado antes de nascerem
E se caso crescerem é mau sinal má sorte
Porque das suas mãos podem surgir maningue mortes
A rua é como o mar ganha sempre o + forte
Se não se tem suporte está-se sujeito ao corte
Coisa que se aprende muito cedo na vida
E fica na mente até ao dia da despedida
Muitos nascem nas civilizações
Mas a rua é a mesma eles morrem nas prisões
Pelos crimes de sobrevivência e não se arrependem
Porque é daqueles crimes que suas vidas dependem
Abram os olhos
Não é um sonho
As ruas estão criando monstros
Abram os olhos
Não é um sonho
As ruas estão criando monstros