Quantos tempos teceram teus vestidos de lã?
Quantas tranças os tempos fizeram traçar teus cabelos?
Quantos beiços beberam do teu peito o afã?
E dos seios sugaram o sulco sem dor, dos teus zelos
Senhora de saia, de ventre predestino,
Quantos tempos cruzaram num ponto de cruz teu destino?
Mães de Jesus, oh virgens, todas virgens
Mães de Jesus, oh virgens, todas virgens
Já choraram teu choro, prantos correm na História
Feito rio que erode do espaço às margens: trajetória
E d'um choro contido de branco e grinalda na média,
Abusaram o desejo do corpo e teu sonho trajou de tragédia
Menina de saia de gozo pré-extinto
Quantos tempos bordaram o calado bordel de teu instinto?
Mães de Jesus, oh virgens, todas virgens
Mães de Jesus, oh virgens, todas virgens
Na sacola da feira tem de besteira feijão
Tem também muitas eras de carga alçada em tua mão
Pudera ter tempo, senhora, tanto tempo pudera e tem
Do fruto da feira, vambora, tempos colheitas de tempo têm
Deles, tantos puseram, oh dona, de peso no saco da feira
Se de Madalena o filho, Madona
Pesa mais: não tem eira nem beira
Não tem eira nem beira
Não tem eira nem beira...