Com que confiança avanço
um passo depois do outro
se a esperança está por um fio que parece um nó de forca
topo com um saquinho
da sua indiferença
ao fim dessa rua já perderam a paciência
os cursos do medo, recursos da história
para nos segurar numa garra sem memória
sem memória
Me movo com embaraço
no calor de dezembro
o mundo se derrete mas o seu polegar não é verde
você gosta da natureza
mas você não sabe como ajudar
você quer dar um mergulho no mar mas depois se recusa
dentre os seus rejeitos você se recusa
e depois me recusa, depois nos recusa
todos
É esse o futuro que sonhava para si?
achava que estivesse mais longe, né?
você se sente fora do tempo-limite
contra qualquer previsão
você perdeu o desejo da revolução
Prendem um rapaz
matam-no por tráfico
a involução que faz espécies encontra consenso
a vida é um dom sacro
a eutanásia é um pecado
se morre um homem em meio ao mar
é só um imigrante
se paga também pelo ar
a gente não respira
me pergunto agora quantos sonhos devo ao Estado
neste estado
É esse o futuro que sonhava para si?
achava que estivesse mais longe, né?
você se sente fora do tempo-limite
contra qualquer previsão
você perdeu o desejo da revolução
Tempos desertos de coragem
"estávamos bem quando estávamos na pior"
as frases feitas para falar
fazer amor e não pensar
me segure forte com um abraço
não tenho medo se lá iremos juntos
do amanhã você me repete que
tudo vai ficar bem
É esse o futuro que sonhava para si?
achava que estivesse mais longe, né?
você se sente fora do tempo-limite
contra qualquer previsão
você perdeu o desejo da revolução