Lá vem brincando, pela mão de uma quimera
Essa garota, que fui eu sempre a sorrir,
Como se a vida fosse eterna primavera
E não houvesse dores no mundo p’ra sentir.
As gargalhadas vêm poisar na janela
E ao ouvi-las tenho mais pena de mim
Ai, quem me dera, rir ainda como ela
Mas quando rio eu já não sei rir assim!
Tenho a janela do peito
Aberta para o passado
Todo feito de fadistas e de fado!
Espreita a alma na janela,
Vai o passado a passar,
E ao ver-se nela a alma fica a chorar!
Lá vem gingando nesse seu passo miúdo
Melena preta, calça justa, afiambrada
Como mudámos, tu que foste pra mim tudo
Hoje a meus olhos, pouco mais és do que nada!
Tuas chalaças de graçola e ironia
Eram da rua, andavam de boca em boca!
Eu, era ver-te que não sei o que sentia
Talvez loucura, por ti andava louca!
Tenho a janela do peito
Aberta para o passado
Todo feito de fadistas e de fado!
Espreita a alma na janela,
Vai o passado a passar,
E ao ver-se nela a alma fica a chorar!
Desilusões, as que tive
Enchem a rua… lá estão
A gente vive dos tempos que já lá vão!