Depois do escuro eu sei
Que virá outra luz p'ra iluminar
As linhas que apaguei
Escritas em folhas dúbias
Sob a luz do luar
A vela que contempla
0 retrato a preto e branco que guardei
Moldura côr cinzenta
Que já foi côr magenta
no dia em que a comprei
0 fato no cabide
Desfeito pela traça, degolado ao guardar
0 som que me agride
Das portas do armário que não dão p'ra fechar
Camisa amarrotada,
Que nunca foi dobrada, lavada nunca foi
Encontrei já suada,
Tão suja e ultrajada, ainda cheirava a dor
Soalho que se move,
Que sente passo a passo a minha inquietação
Não choveu, já não chove
Contei noventa e nove e adormeci no chão