Eu não sei onde você nasceu
Mas eu cresci entre o Jardim Fontalis, o Turisco
A Vila Zilda, as Funas, o Cachoeira
E naquela época, sei lá, era 89, 90...
Era mais ou menos assim, era assim...
Aí, lá tinha água de bica, sem caixa e torneira
Deságua rica, lá da cachoeira
Límpida, e os paralelepípedo a trepidar
Na madeira da roda das carroça, barulheira (nossa)
Sombra de laranjeira, que
Mangueira e pé de caqui
Caixa de feira e moleque
Coro de lavadeira, na trilha
Mulher que, é pilar da família sem pé de bréqui
Beira de brejo, rêgo, tinha
Nego quietim pescando manjubinha
Criame de porco, matadô de galinha
Caçador de preá, teú e rãzinha
Todo dia paz, gritaria, caminhão do gás
Pré escola, meu bom, crepom e tenaz
Máquinas de costura, chita e zaz-tráz
Puramente, pura, gente, jura, quente, ai!
Hoje veio o progresso, pode olhar
Asfalto e som alto, pode olhar
Fumaça e concreto, pode olhar
Antena e contrato, pode olhar
As kombi trocava garrafa por doce, qualquer que fosse
É, tipo gibi de amendoim (oxe)
Paçoca, quindim, 'magina
O enxame de vasilhame ao toque das buzina
Catequese, comunhão, salve Cosme e Damião
Oxalá, Jesus, despacho, oração
Sonho era pião, bola de capotão
E nós, barrigudim, correndo atrás dos caminhão
Arame farpado e caco de vidro nos muro
Colocado já deixava seguro
Colchas de fuxico, flores, muito rico
Cores e um sonho: descer de barco o Velho Chico
Home, conheço todo mundo de nome
São leis de onde crime era roubar frutas lá do japonês
'Te falar, rapaz
Chamam de cidade grande, mas antes parecia bem mais
Hoje veio o progresso, pode olhar
Asfalto e som alto, pode olhar
Fumaça e concreto, pode olhar
Antena e contrato, pode olhar
Eles me oferecem contratos de milhão
Pra mim sozinho
Eu penso, e digo não
Por que meus sonho é tudo baratinho